Este ano a freguesia da Ribeira Grande – Matriz, a chamada “freguesia-mãe” da cidade e concelho, comemorou mais um aniversário. Numa época de incertezas, o AUDIÊNCIA Ribeira Grande esteve à conversa com o presidente desta Junta de Freguesia, Hernâni Costa, numa entrevista em que se falou sobre aquilo que já se fez e o que falta fazer na freguesia. De uma coisa Hernâni Costa tem a certeza: a sua missão e da sua equipa é trabalhar “para que as aspirações das pessoas não sejam defraudadas”.
Este ano a Matriz comemorou mais um aniversário de uma forma diferente.
Desde que tomámos posse que temos vindo a fazer um esforço para promover a proximidade entre a política e os cidadãos. Por isso mesmo retirámos a sessão solene deste dia da nossa sede e fazemo-la na via pública. Com a pandemia que estamos a atravessar, mais lógica teve esta rotação aqui para a via pública, no sentido de termos um distanciamento social de forma a podermos garantir a segurança de todos.
Da mesma forma, assim como mudámos esta sessão para a rua, depois de entrarmos e após os primeiros dois anos de aprendizagem, fizemos um investimento considerável na reorganização interna da Junta de Freguesia da Matriz. Hoje temos um sistema completamente informatizado que nos permite ter acesso à informação detalhada de cada processo e de cada atendimento que fazemos. Sei que para a população em geral pode não parecer muito importante, mas para este executivo era um ponto de honra poder ter tudo organizado de forma transparente.
Quanto ao dia em si e às distinções honoríficas, este ano o dia da freguesia ficou marcado pela pandemia que todos vivemos e na nossa opinião seria de toda a justiça homenagear as instituições que estiveram na linha da frente no combate à COVID-19. Normalmente distinguimos uma instituição da freguesia pelos serviços prestados à população da Matriz. Este ano quisemos, da forma que consideramos mais justa, reconhecer o trabalho de três instituições que ainda que não estejam sediadas na freguesia, são transversais a todas as freguesias do concelho.
Assim, a Distinção Honorífica Institucional foi “repartida” pela Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande, pelo Centro de Saúde da Ribeira Grande, e pela esquadra da Polícia de Segurança Pública da Ribeira Grande. Todas estas instituições merecem o nosso agradecimento e reconhecimento pelo serviço prestado às nossas populações, não só da freguesia da Matriz como de todo o concelho da Ribeira Grande.
A Distinção Honorífica Empresarial foi atribuída a título póstumo a Mário Jorge Cabral de Melo, fundador do grupo Salsicharia Ideal M.J.C.M. Lda., que sempre teve uma postura exemplar de vida em comunidade e de empresário de sucesso, além de que ajudou a criar muitos empregos no concelho da Ribeira Grande e não só, atendendo a que tem diversos estabelecimentos espalhados por toda a ilha de São Miguel.
Quanto à Distinção Honorífica Personalidade, foi atribuída ao Pe. Manuel Galvão pelos seus 20 anos à frente da paróquia de Nossa Senhora da Estrela da Matriz, por se ter mantido também durante a pandemia em exercício das suas funções através do digital, promovendo a proximidade com as pessoas da Matriz, e também porque quisemos reconhecer o seu trabalho na construção do Salão Paroquial, assim como das atuais obras de requalificação da nossa igreja.
A Junta de Freguesia da Matriz tem uma particularidade que é a proximidade com os emigrantes. Costumavam ter um dia dedicado ao emigrante no vosso programa. Este ano não têm. De que forma os emigrantes vão estar presentes?
Este ano é atípico. De facto, nós temos uma ligação muito importante com a nossa comunidade emigrante na América do Norte. Tanto é que somos a única Junta de Freguesia do concelho que todos os anos marca presença nos convívios anuais que organizam. O facto é que temos recebido frutos dessa nossa presença lá.
Como forma de homenagearmos os emigrantes, instituímos o Dia do Emigrante no último dia das festas, ou seja, na terça-feira, em que fazemos um programa específico para a nossa comunidade emigrante como um almoço, passeio e à noite serão musical. Este ano nada foi realizado, à exceção da missa em honra das suas intenções.
A relação que temos com a nossa comunidade emigrante é muito forte e importante mesmo a nível económico. Temos notado que temos retorno económico porque quando vêm no verão, dão retorno económico às nossas empresas. Ir ao encontro dos emigrantes foi uma aposta ganha deste executivo. Queremos manter isto para os próximo anos.
Não se pode menosprezar uma comunidade que adora a sua terra. São ribeiragrandenses que apenas vivem na América do Norte, mas não deixam de ser ribeiragrandenses. Temos que fomentar cada vez mais esta relação para que os filhos e os netos dessas gerações possam continuar a ter este intercâmbio social e cultural na nossa freguesia.
Um dos temas mais atuais continua a ser a COVID-19. Como é que a Junta de Freguesia da Matriz e os seus funcionários reagiram perante esta situação?
Devo realçar que durante o confinamento, apesar dos constrangimentos e dos horários alterados (por vezes à noite) os nossos colaboradores nunca deixaram de trabalhar na limpeza e manutenção da via pública. Temos um grande orgulho nos nossos colaboradores. Para mim, também eles são combatentes da linha da frente porque estiveram a trabalhar em prol da nossa comunidade, fazendo, por exemplo, a desinfeção dos espaços públicos.
Tivemos ainda um grupo de voluntários que estiveram a distribuir bens alimentares e farmacêuticos aos nossos idosos que permaneceram isolados durante vários meses.
Portanto, a Junta esteve sempre do lado das pessoas. Apercebendo-nos da gravidade da situação por que estávamos a passar, sentimos a necessidade de darmos o nosso contributo porque, de facto, uma Junta de Freguesia é a entidade que mais próxima está das pessoas, e não fazia sentido se nós não nos tivéssemos responsabilizado. Quisemos dizer às pessoas que estávamos presentes. Independentemente das falhas que houve de várias entidades e também nossas, e temos de o reconhecer, estivemos sempre aqui e sempre disponíveis para ajudar as pessoas. Foi um orgulho para nós e tenho a certeza que a nossa ação vai marcar a forma como as pessoas encaram a Junta de Freguesia.
Quanto à parte administrativa, esta esteve sempre em funcionamento. Fizemos tudo normalmente exceto o atendimento ao público. De resto, fizemos o nosso trabalho com as funcionárias de porta fechada na sede, cada uma no seu gabinete para manter o distanciamento, mas sempre em atividade, exceto durante o período de Estado de Emergência, em que encerrámos efetivamente os serviços administrativos e mantivemos os serviços operacionais dia sim, dia não.
Como todas as entidades, mantivemos os telefones e a parte digital em funcionamento. Não é mentira quando se diz que a necessidade aguça o engenho… as pessoas começaram a utilizar o ‘e-mail’ e as redes sociais através das mensagens para pedirem ajuda. Foi uma situação que nos levou a alguns desafios… tivemos muitos pedidos de apoio social e de bens alimentares aos quais tivemos que fazer face. Houve várias famílias que perderam rendimentos e necessitaram de apoio. Tivemos que dizer “presente” para poder ajudar estas famílias.
Uma junta de freguesia por si só é pequena para fazer face a muitos pedidos. A Peixaria Almeida, por exemplo, também ajudou… que outras ajudas tiveram?
Nós também promovemos a “Caixa Solidária”, à semelhança do que se fez em todo o país. Contactámos algumas empresas do ramo alimentar que pudessem contribuir. Tanto a Peixaria Almeida como a Salsicharia Ideal contribuíram com vários bens alimentares para que pudéssemos distribuir pela população. Estas duas empresas merecem o nosso carinho e a nossa admiração.
Houve outras pessoas que ajudaram a nível individual, e a própria Junta também colaborou com outras entidades como a Câmara Municipal: sempre que víamos que não tínhamos capacidade para resolver o problema de uma família, fazíamos uma interligação com a Ação Social da Câmara Municipal e esses pedidos foram atendidos, ou seja, houve um trabalho de equipa entre autarquias, que permitiu mitigar muitos problemas de famílias que, de um momento para o outro, se viram um pouco sozinhas e abandonadas. Isso trouxe-nos desafios que nós, enquanto políticos, sentimos uma grande responsabilidade. Defender a causa pública nunca fez tanto sentido como com esta pandemia. Foi fundamental estar presente, não nos escondermos e termos uma resposta e uma medida para combater as preocupações das pessoas. Enquanto autarca, senti-me mais realizado do que nunca quando, no final do confinamento, vi que ia sendo reconhecido pelo trabalho que fiz nesta altura. Este reconhecimento foi melhor que inaugurar uma grande obra na freguesia.
Que conclusões se pode tirar deste confinamento a nível familiar? Há famílias que recuperaram, há famílias que continuam carenciadas…?
O que aconteceu, da minha perspetiva, foi que as famílias que recebiam apoios sociais anteriormente, mantiveram o seu nível de vida porque não perderam o seu rendimento. Nesta franja da sociedade, acho que não houve grandes constrangimentos sem ser aqueles a nível social por estarmos afastados uns dos outros, mas a nível económico, penso que não houve grandes oscilações nesta franja da sociedade um pouco mais fragilizada.
A classe média é que perdeu rendimentos porque algumas pessoas foram para ‘lay-off’, perdendo 33% dos seus rendimentos. Estas famílias, que já tinham os seus orçamentos equilibrados entre aquilo que se recebe e aquilo que se tem a pagar… bom, para começar, tem que se dar prioridade à prestação ou à renda da casa. Os compromissos como água, luz e gás tiveram que ser cumpridos, mas na alimentação é que começou a faltar. Houve famílias que nunca pensariam precisar de apoio, mas que necessitaram. Tivemos uma classe média que perdeu rendimentos e tivemos que atender às necessidades destas famílias.
De um modo geral, penso que devemos fazer um balanço muito positivo de todas as entidades, desde a Câmara Municipal da Ribeira Grande ao próprio Governo Regional dos Açores. As pessoas tiveram respostas às suas necessidades. Logicamente nunca é a ideal, é a possível. Mas penso que esta resposta possível se traduz num balanço muito positivo. Tenho que referir que, de facto, a Câmara Municipal da Ribeira Grande foi pioneira em várias medidas de apoio às populações e às empresas que ajudaram a reduzir custos no orçamento.
Havia um conjunto de atividades dinamizadas pela Junta de Freguesia da Matriz que ficaram adiadas. Atividades estas que envolvem um conjunto significativo de pessoas em especial. Falo do projeto “Viver +”.
Essa é uma das maiores preocupações que temos tido. Tenho tido algum contacto com algumas das idosas que frequentavam o projeto “Viver +”, no qual tínhamos atividades praticamente semanais aqui na sede. Agora, por pertencerem a um grupo de risco, estão quase todas isoladas nas suas moradias. Mesmo nesta fase de desconfinamento, muitas delas continuam a manter o confinamento um pouco mais aligeirado, mas não têm a atividade que costumavam a ter, o que para nós é motivo de preocupação.
Tínhamos uma viagem programada para maio deste ano a Fátima e ao Norte de Portugal, numa comitiva de cerca de 70 pessoas, e tivemos que a adiar para maio do próximo ano. Esperamos que por essa altura a questão da COVID-19 já esteja noutra fase que não esta e que nos permita fazer este convívio, mas o facto é que neste momento nada é garantido.
Esta é uma situação que nos tem deixado preocupados porque estas pessoas também estavam habituadas a atividades físicas e culturais. Atividades que promovem o envelhecimento ativo e que estão canceladas. Estamos a pensar reduzir o grupo e fazer essas atividades de forma rotativa… de forma a que possamos retomar aos poucos a atividade deste projeto que tínhamos na freguesia. Tudo isto de uma forma gradual, acompanhado pela técnica que temos, de forma a que não ponha em risco as idosas.
Promovíamos também um dia diferente às donas de casa, celebrando o Dia das donas de casa no mês de maio. Estas senhoras são pessoas que raramente saem de casa, que pouco tempo têm para cuidar de si porque levam a vida toda a cuidar do marido, dos filhos e dos netos… é importante promover a autoestima e dar-lhes um certo carinho levando-as ao cabeleireiro, à manicura, à maquilhagem… para que elas dediquem este dia a si próprias e também para lhes darmos um retorno e agradecer por cuidarem dos outros. Foi uma forma diferente que encontrámos de reconhecer o trabalho delas. Vamos fazendo alternadamente, sempre com pessoas diferentes, mas dando-lhes este carinho porque merecem.
Outra atividade que tínhamos era o Festival do Fervedouro. Também está cancelado… tínhamos cerca de 300 pessoas juntas neste festival e portanto, enquanto não houver indicações do contrário, este tipo de atividade ficará adiada.
Quando uma freguesia é também sede de uma Câmara Municipal como é este o caso, como é que a Junta de Freguesia da Matriz se consegue distanciar da Câmara Municipal da Ribeira Grande?
Na minha perspetiva, o que acontecia antes é que não se identificava o que era uma ação da Junta e o que é que era uma ação da Câmara Municipal. Quando assumi a presidência da Junta de Freguesia, achando que a freguesia estava adormecida há alguns anos, achei que era preciso haver mais dinamismo e estar mais presente na vida das pessoas. Como é que poderíamos fazer isso? Trabalhando em conjunto com a Câmara Municipal e sinalizar as situações fundamentais para melhorar a vida das pessoas da Matriz. Foi isso que prometemos durante a campanha eleitoral: trabalhar em conjunto com a Câmara Municipal.
Todas as obras realizadas na freguesia da Matriz têm a importante colaboração da Câmara Municipal da Ribeira Grande, seja na sua execução ou na delegação de competências à Junta de Freguesia da Matriz.
A Junta de Freguesia não tem um orçamento que possa realizar obras de relevo, o que pode e deve fazer é pressionar a Câmara Municipal e o Governo Regional que o investimento na Matriz não pode ficar esquecido. E isso a Junta muito tem trabalhado para que as aspirações das pessoas não sejam defraudadas.
Por exemplo, a Junta de Freguesia da Matriz não tem orçamento que permita fazer uma obra como a requalificação do Largo das Freiras; mas tivemos a capacidade de pressionar a Câmara Municipal a fazer a obra, tal como tivemos a capacidade para agora fazer a Rua das Freiras, a Rua do Espírito Santo, a rotunda da Tondela… porque achamos que a freguesia da Matriz irá ter uma nova frente de desenvolvimento naquela zona.
O nosso papel é realizar obras de pequena montra, tais como a Casa do Espírito Santo de Santa Luzia que já terminou e será inaugurada em outubro; temos feito um grande investimento na zona das Caldeiras da Ribeira Grande (que está completamente transformada) através da delegação de competências que a Câmara Municipal está a fazer; estamos a construir um trilho pedestre nas margens da Ribeira para a valorizar: vamos construir duas pontes pedonais de forma a que as pessoas possam entrar na Ribeira e continuar pelas suas margens até à zona das Caldeiras, portanto, temos diversos projetos. Se não fomos nós que levámos a cabo a sua construção, fomos nós que sinalizámos junto da Câmara Municipal para que esta procedesse à sua construção. Era isso que estava a faltar: que a Câmara Municipal investisse na Matriz.
Por estarmos no coração da cidade, muitas vezes a Matriz ficava esquecida, em vez de ser ao contrário. Quando entrámos para a Junta, dissemos sempre que queríamos que as pessoas percebessem que a Junta de Freguesia esteve presente, foi dinâmica, que cometeu erros – e temos que ter a humildade para o reconhecer -, mas temos quase a certeza que as pessoas vão reconhecer atividade, movimento, dinamismo e presença. Temos muitas atividades que desenvolvemos ao longo dos anos que eram inéditas, mesmo a nível social e cultural.
Quais dessas atividades destaca?
Fizemos animações no centro histórico da Ribeira Grande, incentivámos e criámos uma marcha (que não havia até então), voltámos a fazer desfile de terça-feira de Carnaval… tentámos ver as lacunas que a Câmara tinha neste aspeto, para podermos nós estar presentes.
Tudo o que eram obras que considerávamos prioritárias, pressionámos a Câmara Municipal a realizá-las, para que não ficassem esquecidas. Por exemplo, recentemente inaugurámos um parque de estacionamento no Largo East-Providence, a dois minutos do centro da cidade, que já estava em terra há 20 ou 30 anos. Nós sinalizámos essa situação e fizemos com que a Câmara fizesse esse trabalho. Portanto, esta parceria é fundamental porque, para mim, enquanto presidente da Matriz, não me interessa que digam que fiz esta ou aquela obra, o que me interessa é que as pessoas da Matriz tenham uma terra e uma vida melhor. Isso tenho a certeza que estou a fazer. Estou sempre a reivindicar obras para a Matriz porque penso que é de elementar justiça. Temos quatro mil pessoas a viver aqui na Matriz e ainda temos muitas carências a nível de habitação degradada, de saneamento básico… é minha obrigação fazer ver à Câmara Municipal que tem que investir na Matriz, fazer ver ao Governo Regional dos Açores que existe aqui uma freguesia que é muito importante para a economia regional e que precisa de ter um investimento condigno à sua condição.
Acabou de falar naquilo que pressionou a Câmara Municipal a fazer. E quanto ao Governo Regional dos Açores? O que há aqui para fazer?
Estamos agora num período eleitoral e não gostaria que a minha intervenção fosse confundida com este período. Costumo dizer que a partir do momento em que o presidente de junta é eleito, deixa de ter partido. Estamos tão próximos das pessoas que não podemos distingui-las pelo partido. Esta questão partidária é a que menos me preocupa.
O facto é que a nível do Governo Regional, não tem havido um investimento condigno à dimensão da freguesia da Matriz. Tem havido uns protocolos ao nível da habitação degradada, é verdade… Mas existe aqui uma situação que considero fundamental: a estrada das Caldeiras da Ribeira Grande, que é da competência do Governo Regional, e que está abandonada há muitos anos. Esta obra já entrou e saiu da carta de obras públicas regionais por diversas vezes e continua a ficar esquecida sem haver uma intervenção. Isto é inaceitável. Eu próprio tenho feito este apelo ao presidente Vasco Cordeiro acerca desta obra, o que aconteceu ainda recentemente, no Conselho de Ilha.
Não posso admitir que na minha freguesia exista um edifício como a antiga escola Gaspar Frutuoso, que está completamente abandonada, a sofrer atos de vandalismo e a ser utilizada para atos menos próprios e menos legais, e que é um património que é regional. Aquela é uma zona nobre na cidade, onde há uma Biblioteca, o Tribunal, onde fizemos a obra de requalificação do Largo das Freiras… o próprio Governo acabou de adquirir os apartamentos atrás do tribunal para habitação social… e não podemos ter um património destes completamente ao abandono no coração da cidade e da freguesia.
Sempre que haja situações destas eu tenho que alertar. A minha função é proteger e melhorar a vida das pessoas da freguesia da Matriz. Estas duas situações, que é o abandono da escola e a requalificação da estrada das Caldeiras, eu considero serem dois investimentos prioritários que o Governo dos Açores tem deixado esquecidos nos últimos anos.
Outra situação acontece na Escola Secundária da Ribeira Grande: em 1999 construiu-se um novo pavilhão de aulas, pelo que a escola ficaria com capacidade para 800 alunos. Estamos a falar de há 21 anos. 21 anos depois, no último ano letivo, a escola teve 1.350 alunos inscritos. Estamos a falar de mais 550 alunos acima da lotação. Eles sabem disso. Foi mais uma preocupação que levei ao Governo Regional ao Conselho de Ilha. Esta é uma situação inaceitável. Se queremos promover a educação, o combate ao abandono escolar e a literacia, não podemos ter uma escola com 550 alunos a mais à sua lotação. Não há condições de segurança, os professores não têm salas para receber os encarregados de educação, todas as pequenas salas são aproveitadas para dar aulas… os professores não têm condições para desenvolver a sua ação com deve ser nem os alunos para aprender. Enquanto assim for, irei reivindicar esta situação.
À semelhança de outras juntas de freguesia, esta também reivindica por uma casa mortuária. Mas ao que parece esta vai mesmo existir.
Esta tem que ir em frente porque é um ponto de honra no nosso executivo. Desde o início que trabalhamos para poder ter esta construção da casa mortuária. Somos a maior freguesia do centro da cidade. É uma necessidade urgente da nossa população e é uma aspiração antiga. Tentámos fazer um trabalho conjunto entre diversas freguesias, mas não foi possível fazê-la para todas as freguesias da cidade.
Já temos um projeto concluído, já deu entrada na Câmara Municipal e penso que o lançamento da primeira pedra será no início de 2021. Este será um espaço com duas salas já pensando no futuro, um espaço que já prevê a colocação de um crematório porque o futuro deste equipamento passa por aí e não podemos fazer um equipamento apenas para a atualidade, a nossa obrigação é pensar a longo prazo.
Este é um importante equipamento para a cidade da Ribeira Grande. Não quero que as pessoas pensem neste equipamento como sendo apenas da Matriz. Para mim, estará aberto a qualquer freguesia que necessite. A minha postura será sempre de abertura para que todas as freguesias possam beneficiar deste equipamento.
Pergunto-lhe o que é que do manifesto que apresentou com a sua equipa, o que é que está feito, o que é que está a ser feito e o que é que ainda tem que ser feito no futuro?
Muitas são as obras já concluídas e muitas outras serão concluídas até ao final do nosso mandato. Foi isso que prometemos às pessoas, que íamos trabalhar em conjunto com a Câmara Municipal para transformar a Matriz para melhor e é isso que vamos cumprir.
No final do nosso mandato as pessoas vão fazer uma análise ao nosso trabalho e vão perceber que não fizemos tudo bem, temos que ter humildade para o reconhecer, mas também temos a certeza que tudo fizemos para tornar a Matriz mais dinâmica e presente da vida das pessoas.
A obra na Casa do Espírito Santo em Santa Luzia já terminou e será inaugurada no próximo mês de outubro; também já terminámos o relvado sintético de Santa Luzia; o parque de estacionamento do Largo East Providence já foi inaugurado; o Largo das Freiras já está totalmente concluído (faltando apenas as luminárias que vêm de Itália e que devido a estes constrangimentos de transportes por causa da pandemia, estão atrasadas); a repavimentação do Ramal de Santa Luzia e da Rua do Estrela foram essenciais para a melhoria da vida das pessoas; a requalificação da Rua do Espírito Santo já terminou; já requalificámos as ermidas de Santa Luzia e do Rosário; temos ainda o projeto ambiental “Colorir a Matriz”, que é uma ação que queremos repetir todos os anos; temos, como já disse, as Caldeiras da Ribeira Grande, que têm merecido um investimento muito forte da Junta da Freguesia da Matriz para valorizar um espaço idílico.
Por outro lado, em curso temos a requalificação da Rua das Freiras e da rotunda da Tondela, que será um marco para uma nova frente de desenvolvimento da Matriz; a primeira pedra da casa mortuária será colocada nos primeiros meses de 2021; a requalificação da Rua dos Condes irá arrancar até ao final do ano; e como também já falámos, estamos a construir um trilho pedestre nas margens da nossa ribeira, o que tem sido um desafio enorme.
No futuro queremos construir um novo parque infantil na Rua Prior Manuel Medeiros de Sousa. É um espaço que está abandonado porque vandalizaram o antigo parque que lá estava, e este ano queremos voltar a construí-lo. Até janeiro iremos lá ter este parque, não tenho dúvidas; queremos ainda requalificar o Miradouro do Palheiro. Nós consideramos que temos o melhor pôr-do-sol dos Açores. É uma realidade, a Matriz tem o melhor pôr-do-sol dos Açores e nós vamos requalificar aquele miradouro com uma plataforma de observação do pôr-do-sol, e vamos também construir um miradouro na Ponte do Atlântico para que as pessoas possam também desfrutar daquele espaço; vamos ainda requalificar a ermida de Santo André, que é a primeira ermida da cidade da Ribeira Grande ainda este ano.
Deste manifesto, a única coisa que penso que não será possível concluir é a construção de um parque de campismo. Isto porque a zona que tínhamos identificado para fazer esta construção é uma zona de difícil acesso e iria constituir um investimento muito grande no acesso até chegar à zona da Mãe de Água. Esta aspiração não é uma realidade neste momento… ainda tentámos localizar para a zona das Caldeiras, mas existe a questão da segurança por causa das fumarolas. Estamos agora a estudar uma nova localização para podermos levar a cabo este projeto.
Nós requalificámos, estamos ou vamos requalificar um património religioso regional. São ermidas que estão junto das populações e faz todo o sentido termos estas requalificações. Aqui na Matriz temos quatro: a Câmara tinha requalificado a ermida da Salvação, nós fizemos a do Rosário e de Santa Luzia, e agora vamos requalificar a de Santo André. A freguesia vai ficar com este património todo recuperado.
Com orçamentos tão reduzidos, de onde vem o dinheiro para tudo isto?
O orçamento da Junta de Freguesia da Matriz vem do FEF [Fundo de Equilíbrio Financeiro]. Algumas das obras podem ser feitas também através da delegação de competências com a Câmara Municipal através de contratos interadministrativos, nomeadamente a construção do parque infantil e do miradouro da Ponte do Atlântico; a requalificação do Miradouro do Palheiro será feita através da candidatura de um programa chamado GALL 2020, portanto, as requalificações são com o nosso próprio orçamento.
Logicamente que o nosso orçamento é sempre reduzido para as necessidades que a freguesia apresenta. Temos o FEF (cujo valor é estipulado) e felizmente este ano a Câmara Municipal aumentou as verbas para as juntas de freguesia. Não chegam a 200 mil euros… Temos de andar sempre a contar os tostões e a tentar fazer de um euro dois.
Há mais alguma obra que considere estruturante para o futuro da Matriz?
O caminho da Tondela e o da Chã das Gatas.
A Câmara Municipal está consciencializada de que a prioridade terá que ser o caminho da Tondela. Agora que se está a proceder à obra da Rua das Freiras e da rotunda da Tondela, não se pode parar e terá que se dar continuidade à abertura do caminho da Tondela. Sabemos que as expropriações já estão todas concluídas e que o projeto já está em andamento. Temos que pressionar a Câmara para continuar com isto e tenho quase a certeza que no próximo mandato o caminho da Tondela será uma realidade para a freguesia da Matriz.
A cerca de um ano de novas eleições, haverá nova recandidatura?
Neste momento ainda é muito cedo para pensar numa recandidatura, primeiro temos que fazer um balanço destes quatro anos e se conseguimos atingir os objetivos a que nos propomos, antes de pensar em concorrer para mais quatro anos.
Vim para a política para fazer diferente, senão não vinha. É necessário cultivar a filosofia de que os políticos têm que cumprir com aquilo que prometem e para mim é ponto de honra trabalhar para conseguir atingir os objetivos a que me propus e que o povo da Matriz sufragou.
Os próprios cidadãos têm que se habituar a escrutinar cada vez mais a ação dos políticos, e, por isso, defendo cada vez mais a proximidade entre eleitor e eleito.
Se no final desse mandato achar que não fui o presidente da Matriz que as pessoas mereciam, serei o primeiro a sair de cena. Para mim, as pessoas e a minha terra estarão sempre acima dos meus interesses pessoais, essa é a única condição que eu imponho a mim próprio para servir a causa pública.
Neste momento, mesmo que o Hernâni não continue como presidente, acha que essa política de proximidade que tentou implementar terá continuidade?
Penso que sim. Será um caminho sem retorno. Uma freguesia com esta dimensão não pode viver de outras entidades. Temos que nos afirmar pelo que somos e pela dimensão daquilo que temos.
Estamos aqui a representar quatro mil pessoas, ou seja, é preciso ter a consciência da dimensão que a Matriz assume a nível concelhio e a nível regional.
Independentemente de quem cá esteja, tem que ter uma postura de reivindicação e até de confronto para podermos lutar pela nossa freguesia. Temos que fazer ver aos executivos e aos governantes que a freguesia da Matriz e os seus habitantes merecem um investimento efetivo. Às vezes há investimentos que “tapam a vista”, mas o investimento tem que ser efetivo: tem que ser algo que toque as pessoas e que lhes mude a vida. Se conseguirmos que as entidades façam saneamento básico e repavimentem uma rua, estamos a mudar a vida das pessoas para melhor. É isso que temos que fazer.
A nível político, a Matriz é uma freguesia muito difícil. Não é fácil receber a aceitação das pessoas. Nos últimos 20 anos, a Matriz nunca repetiu um presidente de junta. Por razões partidárias ou não, este é um dado político. Porquê? Porque as pessoas são exigentes. E na minha opinião têm que o ser! Tem que se fazer um balanço de mandato para mandato, de executivo para executivo, e ver se cumpriram com as metas a que se propuseram.
Efetivamente, eu e o meu executivo estamos a trabalhar para que os objetivos que tínhamos antes de entrar sejam cumpridos.
Como são as relações institucionais entre a Junta de Freguesia e as forças-vivas da freguesia?
A Matriz é uma freguesia muito rica em instituições de solidariedade social, desportivas, religiosas e culturais. Temos feito sempre um esforço para sermos um parceiro ativo na solução de problemas e no melhoramento das próprias instituições, porque isso só significa melhoria das condições de vida das pessoas da Matriz. Estas instituições permitem que a freguesia seja mais rica e dinâmica.
Quantos funcionários tem a Junta da Matriz?
Neste momento temos um funcionário no quadro de pessoal efetivo e 25 colaboradores em programas de emprego: nove colaboradores no PROSA, oito colaboradores no INOVAR, dois colaboradores no SEI e seis colaboradores no CTTS.
Ou seja, estamos a dar o nosso contributo no combate ao desemprego da freguesia, tendo sempre aqui uma média de 20 a 30 pessoas sempre em permanência nos serviços operacionais e administrativos da Junta de Freguesia.
Quais as suas expectativas em relação à Matriz?
Eu tenho, hoje em dia, uma visão muito clara do rumo que quero que a Matriz tenha. Gostaria de ter uma freguesia mais consciente para a problemática ambiental no final do meu mandato
Uma das maiores preocupações que tenho diariamente é que a freguesia esteja sempre limpa, mas infelizmente continuamos a lutar muitas vezes contra algumas pessoas que ainda não têm uma mentalidade de vida em comunidade.
Se me perguntasse qual seria o meu ideal de freguesia, responderia que seria uma Matriz ecológica, e que vivesse numa comunidade em harmonia. Uma freguesia que promovesse a igualdade e que fosse solidária com aqueles que menos têm e que mais precisam. Essa seria a Matriz ideal, a melhor freguesia do mundo, e penso que não é impossível chegar lá, apenas temos que continuar a trabalhar para chegar a esse objetivo e não desistir.
Hoje em dia ainda temos que lutar contra a mentalidade de algumas pessoas que não se compadecem com a realidade dos tempos do século XXI, que é de uma consciência ambiental que deve estar presente. O lixo nas ruas e o abandono dos “monstros” são preocupações diárias de um presidente de junta. Gostaria de ver esse problema debelado. Mas sei que depende da formação e da educação dos jovens porque há pessoas que já não têm idade para mudar a sua mentalidade.
Situações de vandalismo como parques infantis, entre outras, são situações que já não deveriam acontecer no século XXI. Espero que as pessoas tenham uma maior consciencialização para fomentarem um melhor estilo de vida para si e para o resto da comunidade.
Sou alertado pelas redes sociais e por telefone por pessoas com preocupações ambientais. Constantemente mandam-me fotografias de espaços vandalizados, de colchões e sofás na via pública, de sacos do lixo abandonados, de garrafas partidas… logicamente que os serviços operacionais tentam resolver a situação o mais rapidamente possível, mas efetivamente não podemos estar atrás de pessoas que estão sempre a sujar e a vandalizar.
Viver numa freguesia limpa torna-a mais linda. Este é o fio condutor que vai levar a que haja uma promoção de igualdade e solidariedade para que possamos viver numa comunidade em harmonia. Seria muito importante juntar a questão da harmonia à questão ambiental e à da educação das pessoas. Para mim, tudo isto seria a composição de uma Matriz ideal e do século XXI: uma Matriz com desenvolvimento económico, igualdade social e muita consciencialização ambiental.